sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ESCRAVIDÃO MODERNA


        O escritor e sociólogo italiano Domenico de Masi conquistou corações e mentes quando defendeu veementemente que a tecnologia seria uma aliada importante na redução do tempo de trabalho e na ampliação dos períodos de lazer. 

      Com o seu livro “O ócio criativo“, lançado no Brasil a mais de uma década, o escritor vislumbrava que a indústria e o trabalho não seriam mais o centro de tudo. Com a tecnologia otimizando o tempo, poderíamos trabalhar apenas de 3 a 4 horas por dia com a mesma produtividade das 08 horas habituais e reservar um período maior para o lazer.

Ledo engano, a idéias de Domenico não se comprovaram. Pelo contrário presenciamos que o uso da tecnologia acabou por ofertar uma maior carga de atribuições. Leva-se trabalho para casa no pen-drive, baixa-se arquivos em downloads no laptop ou celular. Toma-se café enquanto se acessa o jornal on line e verifica-se o correio eletrônico. A atividade física diária é praticada e ao mesmo tempo atende-se telefone, envia-se sms. O tempo reservado ao trabalho e os tempos da vida privada, entre os tempos de atividade e os tempos de descanso, deixou de existir. Ficou tudo misturado e muito mais controlado.

Você pode ser encontrado a qualquer hora, independentemente do período estipulado em seu contrato de trabalho. Ao cumprir o seu horário e “fechar a porta” do local de trabalho, não há a imediata separação de ambientes, o acesso é instantâneo e a produtividade não para nunca. O sistema é imperativo e nem quer saber se o outro está a fim. Imaginava-se tal cenário em grandes metrópoles, mas cada vez mais, faz parte do cotidiano de pequenas comunidades do interior.

E nessa onda maluca da conectividade e sempre estando fazendo algo produtivo, vamos percebendo que acabamos por não saber ao certo o que estamos vivenciando nas partes que compõem o dia a dia de qualquer cidadão urbano ou rural. Vivendo na velocidade do futuro, escravo da tecnologia e dependente da aparelhagem do presente.

Na Itália, algumas cidades estão investindo esforços em habituar as pessoas a fazer as coisas no seu devido tempo. Nas denominadas “Cidades do Viver Bem” (Globo Repórter 03/12/2010), os munícipes são incentivados a definir e viver o tempo de trabalhar, de se alimentar, vivendo de forma mais lenta, valorizando hábitos saudáveis e a cultura local.

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